A primeira vez que ouvi a frase que dá o título dessa mensagem foi no casamento de minha quarta irmã. O texto escolhido para a mensagem da celebração de casamento era esse que está registrado no Livro de Ruth, capítulo 1, versículo 16.
Disse, porém, Rute: Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus;Na época, como não tínhamos essa aproximação com Israel, o entendimento da mensagem ficava apenas no nível raso de interpretação.
Hoje, aproximado que estou do verdadeiro contexto bíblico das Escrituras Sagradas, é que passei a entender melhor a belíssima mensagem do Livro de Ruth. No entanto, antes de dar ênfase ao ensinamento do texto em epígrafe, sinto a necessidade de esclarecer alguns pontos do método judaico de interpretação das escrituras.
Resumidamente podemos classificar as regras judaicas de interpretação bíblica nesses níveis:
- PESHAT - é a interpretação literal;
- REMETZ - é o sentido indireto relacionado com a época, circunstâncias etc., porém submetido ao crivo do nível anterior, ou seja, do nível Peshat.
- DRASH -é o sentido aplicativo, as comparações, as correlações entre os textos, parábolas, etc. Do mesmo modo, tem que passar primeiro pelo crivo do nível Peshat.
- SOD - é o sentido misterioso, oculto. Envolve a gematria e da numerologia, dentro outros.
Essa metodologia de interpretação nasceu por volta do século III a. C., e é denominada de PARDES (acróstico das iniciais dos níveis acima expostos).
A importância de entendermos que existem esses níveis de interpretação e essa metodologia é fundamental, inclusive porque o apóstolo Paulo (Shaul Hashaliah) chamou a atenção da comunidade para que buscassem o estudo das escrituras com aprofundamento. Veja, então, o que ele diz no capítulo 3 do Livro de Coríntios:
E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo.Nessa citação Paulo, faz menção a necessidade de aprofundamento nas coisas do Eterno. Aqui as atenções devem ser voltadas a espiritualidade. Essa espiritualidade deve ser almejada por todo aquele que Nêle crê. Porém, isso só se dá através do abandono das coisas mundanas, inclusive dos ensinamentos bíblicos rasos e das práticas espúrias à Torá.
Com leite vos criei, e não com carne, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis, porque ainda sois carnais [...].
A Carta aos Coríntios é uma carta voltada a um povo que carrega consigo o estigma de ter uma herança teológica baseada na mitologia grega. Portanto, é muito natural que Paulo, exorte a igreja de Corinto a abandonar as coisas mundanas. Podemos citar como exemplo dessa distorção teológica que atrai o homem ao mundo, a idolatria grega e o os erros de culto e adoração, as impurezas alimentares, a divinização dos astros, dos homem e das coisas, etc.
Engraçado perceber que milênios se passaram e o crente continua no nível mais raso de aprofundamento bíblico e ainda apegado as coisas mundanas, ao materialismo.
Se verificarmos na história da igreja veremos o quanto é difícil qualquer tentativa de dar aos fiéis uma maior intimidade com o Eterno através da Sua Palavra. A título de demonstração, pode=se dizer que, dentro do cristianismo católico, que só a partir do Concílio Vaticano II, ou seja, há pouco mais de 50 anos que a missa deixou de ser celebrada em latim para ser realizada na língua oficial de cada país.
Ora, o aprofundamento do crente nas Escrituras diminui o poderio da instituição sobre o membro da congregação. Lembre-se: a Verdade liberta. Me parece que tais instituições não querem ver os fiéis liberto, antes escravos dos dogmas religiosos e das doutrinas de homens.
Por isso e por outras coisas mais é que devemos estar atentos e buscarmos estudar as Escrituras com aprofundamento para, dessa maneira, atingir uma prática correta com os ritos ensinados pelo Eterno, pois, só assim estaremos realmente ligados a Ele de forma perfeita.
É por esse motivo que resolvi trazer à tona, em nível um pouco mais aprofundado das escrituras, o que quer dizer o texto do livro de Ruth.
A teologia dividiu, errôneamente, os livros da Bíblia entre os históricos e os proféticos. Mas, a história e a profecia não podem ser desmembradas. Ora, é claro que não! As Escrituras são Eternas e elas apontam para o passado e para o presente, bem como, falam para o futuro, sempre.
Voltando ao assunto, veja que Ruth era uma estrangeira. Se observarmos a derivação que vem do latim, a palavra "estrangeira" tem a mesma raiz da palavra "estranho" e tem o sentido de ser aquilo que é diferente, ou aquilo que é de um padrão divergente.
Ruth era, pois, uma estrangeira, viúva, uma moabita. sem filhos e muito pobre. As Escrituras deixam claro que não era permitida a união entre Israel e Moabe. Ela pertencia a um povo que foi amaldiçoado até a décima geração. E porque isso se deu? Se deu jutamente porque negaram pão e água. Para deixar complicar ainda mais as coisas, convidaram Balaão para pronunciar maldições contra o povo de Israel. Dessa forma foi que, Deus disse ao povo de Israel paraque não fizessem pacto com os moabitas. Nenhum tratado de amizade com eles, enquanto o povo de Israel vivessem.
Deus fez esse alerta, principalmente porque os moabitas eram idólatras, feiticeiros, invocavam demônios e, sobretudo, eram anti semitas, o que é a mesma coisa de dizer que eles eram contra o povo de Deus e consequentemente contra a promessa de Deus. Veja o que diz Deuteronômio 23:3 e seguintes:
Nenhum amonita nem moabita entrará na congregação do Senhor; nem ainda a sua décima geração entrará na congregação do Senhor eternamente.Porém, a espreita de tudo que as Escrituras falam do povo moabita e da origem moabita de Ruth, o Senhor foi misericordioso e deu oportunidade para quebrar a maldição sobre a vida dela.
Porquanto não saíram com pão e água, a receber-vos no caminho, quando saíeis do Egito; e porquanto alugaram contra ti a Balaão, filho de Beor, de Petor, de mesopotâmia, para te amaldiçoar.
Porém o Senhor teu Deus não quis ouvir Balaão; antes o Senhor teu Deus trocou em bênção a maldição; porquanto o Senhor teu Deus te amava.Não lhes procurarás nem paz nem bem em todos os teus dias para sempre.
Muito provavelmente, o que fez diferença na vida de Ruth para que ela alcançasse a graça foi justamente o pronunciamento das palavras: "o teu povo será o meu povo, o teu Deus será o meu Deus".
O grande segredo ai está. Ela naquele instante, em outras palavras disse: É esse o povo de quem eu quero pertencer, é nessa aliança que eu quero seguir!
Daí ela se casa com um judeu nascido em Beit Lehem (Belém), um homem da tribo de Judah, chamado Boaz.
Esta história todos já conhecem, não é necessário discorrê-la. O que importa mesmo é o entendimento de como se deu o casamento de Ruth com Boaz.
Ela se casa, não nos padrões românticos e modernos como os atuais, com cerimonial, bufê, bebidas, etc., mas sim, num padrão que agradava a Deus. Na verdade ela não estava de olho no que ele possuía, na sua cevada ou no seu trigo. Ela se importou com o Deus dele e na aliança e fidelidade que ele guardava. A prova disso é que ela foi capaz de deixar tudo para acompanhar sua sogra, mulher totalmente desamparada no seu caminho de retorno (Teshuvah) a Terra Prometida.
Perceba que Boaz agiu muito fidedignamente com a Torá. Boaz aceitou resgatar a terra exercendo o levirato, que é a obrigação de um homem a casar-se com a viúva de seu irmão quando este não deixasse descendência masculina. O filho desse casamento era considerado do falecido.
Trazendo para os dias de hoje, o que se observa com o livro de Ruth é um acontecimento de um padrão que une gentios a judeus, se submetendo a mesma fé e ao mesmo Deus, vivendo em unidade e em amor. Esse é o padrão que o Eterno quer para a "noiva", a igreja.
Ruth aceitou o sacerdócio de Boaz e ele aceitou ser responsável por ela para honrar a Torá. A grande sacada de Ruth foi perceber que a única maneira, naquela época, de ascender ao Eterno era firmar-se na aliança com o Deus de Israel e com o seu povo.
É salutar ao crente entender essa passagem fazendo uma midrash (ligação) com o texto de Romanos 11:17 e seguintes:
E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles, e feito participante da raiz e da seiva da oliveira,Podemos dizer, seguramente, que os ramos quebrados são aqueles que estavam em Israel e não acreditaram no Mashiah Yeshua; e por outro lado, pela fé, alguns gentios foram enxertados.
Não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti.
Dirás, pois: Os ramos foram quebrados, para que eu fosse enxertado.
Está bem; pela sua incredulidade foram quebrados, e tu estás em pé pela fé. Então não te ensoberbeças, mas teme.
Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que não te poupe a ti também.
Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas para contigo, benignidade, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira também tu serás cortado.
E também eles, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar.
Porque, se tu foste cortado do natural zambujeiro e, contra a natureza, enxertado na boa oliveira, quanto mais esses, que são naturais, serão enxertados na sua própria oliveira!
Agora, uma pergunda fundamental: o que te mantém na oliveira? a única resposta é: a fé. A fé agregada a uma obediência, a uma fidelidade, lealdade. Seja isso para o judeu, seja para o gentio. Essa fidelidade é a tudo aquilo que a aliança nos exige, ou seja, a tudo aquilo que a Escritura nos aponta como mandamento, preceitos e ordenanças.
Será que Yeshua, falou sobre isso? Abra sua Bíblia no Evangelho de João, capítulo 14, versículo 21, que você verá:
Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.
Outro ponto fundamental a entender é que, quando judeus e gentios aliados por um ponto comum que é a fidelidade (Emunah) o resultado é visto no aparecimento de frutos. Seguindo a história contada do livro de Ruth, vemos que quando ela (gentio) se uniu a Boaz (judeu) em fidelidade e obediência passaram a dar frutos: os filhos. Eles geraram Obed, Obed a Jessé, Jessé a Davi. Assim eles originaram a casa real e isso é profético, posto ser o nosso Mashiah Yeshua, advindo dessa linhagem, daquela união entre a gentia Ruth e o judeu Boaz.
Mas o importante é que judeus e gentios passem a viver em unidade e não em competição. Cada um respeitando o papel do outro. É a igreja em Jerusalém junto com a igreja espalhada pelas nações a gerar um corpo em Yeshua. Isso gerou uma dinastia que durará para toda a eternidade, o que no hebraico se denomina "leolam vaet".
Essa união que faz a "noiva" aquela que um dia há de estar prreparada em fidelidade para o "noivo", Yeshua e os dois se darão em casamento,
O mais importante dessa história, é que estamos às vésperas desse acontecimento e muito em breve estaremos junto ao noivo.
Baruch Hashem!