quarta-feira, 5 de setembro de 2018

PARA ALÉM DA TORÁ

Uma das grandes dificuldades de se reconhecer o Messias de Israel, Yeshua, como sendo verdadeiramente o Ungido de Adonay, Seu amado filho, encontra-se justamente em algumas aparentes dicotomias e contradições entre a Nova Aliança ou Novo Testamento e a Primeira Aliança ou Antigo Testamento como nos foi ensinado pela teologia sistemática ocidental.
Nossa herança cristã, baseada em milênios de subordinação às doutrinas católicas e seus dogmas, deram para nós uma visão bastante distorcida de Yeshua, o Messias. Os movimentos reformistas também não foram capazes de trazer a luz o Messias como ele realmente era e é. O que pensa, o que fala e como age.
Não há como crucificarmos os fiéis irmãos católicos e protestantes por essa herança maligna recebida dessas duas claques cristãs, que mais ajudam a afastar o homem de seu Salvador do que levá-los à salvação Nele e por Ele.
A exegese utilizada pelos cristãos, sejam católicos ou evangélicos, apontam para o quase completo desconhecimento da pessoa do Messias. O Jesus, como os cristãos conhecem, parece não ser o mesmo Yeshua dos movimentos de restauração da igreja liderados pelos judeus messiânicos.
As homilias de missas e cultos apresentam um Salvador ocidentalizado. Vê-se muito mais nas pregações de padres e pastores, muito mais um messias romano ou grego do que aquele cujas características estão descritas no Tanach (AT) e que necessariamente refletem na pessoa de um judeu, filho de mãe judia, criado em território Israelense, vivendo práticas e costumes de seu povo e obedecendo fielmente às práticas religiosas de seus antepassados hebreus.
Toda a pregação do evangelho onde não se respeite o contexto e os parâmetros que denotam a judaicidade de Yeshua (Jesus), levará a separação da Verdade escrita nas escrituras sagradas e aos enganos, que, consequentemente desembocarão em práticas deturpadas e a exageros penitenciais totalmente desvinculados da racionalidade pregada por Paulo (Shaul) quando na sua Carta aos Romanos Capítulo 12, versículo 1: "Portanto, irmãos, rogo pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês".
Esse sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, não é senão, a obediências aos mandamentos, estatutos e preceitos ordenados pelo Pai, ou seja, as emanações de uma vida obediente à Torá (pentateuco), obediência às suas instruções. Tudo o que passar disso é abominável aos olhos do Pai.
o Testemunho de Yeshua, sua palavras e seu agir são a perfeição da obra e o reflexo daquilo que o Pai quer para nós e que foi estatuído na Torá.
As deturpações criadas pelas falsas doutrinas e por interpretações distantes do contexto judaico da vida do Messias afastam o homem das boas obras que levam a fé perfeita e a fazer a vontade do Altíssimo de Israel.
Há nos evangelhos algumas falas que parecem mesmo estar fora de sintonia com a Torá, mas será mesmo? Será que o Filho estaria em rebelião contra as Palavras do Pai? Será que as Alianças formadas pelo Pai foram rompidas pelo Filho? Ou será que o Filho veio trazer luz sobre como obedecer e tornar nossa prática mais santa e agradável aos olhos do pai?
É justamente sob esse último aspecto que acredito ser o Testemunho de Yeshua ainda mais conectado a autoridade e obediência ao Pai. Ele não veio revogar a Lei ou romper alianças formadas com o povo escolhido, ele veio dar o entendimento correto do que as escrituras exigiam, as vezes mais brandas e outras vezes mais rigorosa do que de costume. Para exemplificar esse aspecto vamos a seguinte passagem da Bíblia que está descrita no Livro de Marcos, 12:28 -30:
"Um dos mestres da lei aproximou-se e os ouviu discutindo. Notando que Jesus lhes dera uma boa resposta, perguntou-lhe:
"De todos os mandamentos, qual é o mais importante?"
Respondeu Jesus: " O mais importante é este: 'Ouça, ó Israel, o Senhor, o nosso Deus, o Senhor é o único Senhor. Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas forças'.
Essa recitação do Shemá é a demonstração mais clara da ratificação de Yeshua e sua identidade judaica, pois todo judeu guarda o Shemá como seu princípio fundamental de sua fé e o mais primordial. Na recitação do Shemá fica implícito a crença e a obediência ao Deus único, bem como, fica evidenciado a obediência hierárquica de Yeshua por estabelecer o seu Senhor.
Por outro lado, Na citação que Yeshua faz, há um acréscimo feito por ele ao texto da Torá, cuja referência se dá no livro de  Deuteronômio (Devarim), 6:5:
Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças.
Note que na citação de Deuteronômio não há o vocábulo "entendimento". Podemos dizer que esse acréscimo que Yeshua faz é uma alusão a um novo tempo que ele inaugurara. A informação que ele trazia, primeiramente aos judeus e agora para nós, aponta para o dever de que devamos amar a Deus de todo o nosso "entendimento". O que antes era obediência simples e pura, agora deveria ser feita de forma racional. O que hoje é exigido para nós, não era exigido para Israel antes que Suas palavras fossem proferidas. O povo de Israel não tinha o que entender sobre os mandamentos, estatutos e ordenanças do Eternos, apenas fazer e pronto. Passemos ao seguinte exemplo: os judeus colocam uma mezuzá na entrada da casa do lado direito da porta com o Shemá. Os judeus fazem isso em obediência ao seguinte mandamento da Torá: "Escreve-las-ás nos umbrais de tua casa, e em teus portões" (Deuteronômio VI:9, XI:20). Eles não tem que questionar o porque de se fazer isso. Para eles, importa apenas a obediência ao preceito da Torá e só isso. Para eles não interessa o por quê. O Senhor mandou, eles fazem e ponto final. 
Yeshua vai além da Torá, tornando o preceito mais rigoroso. Ele quer de nós o entendimento do que estamos fazendo, saber o por quê da obediência. Ele quer que tenhamos a segurança de saber fazer o que se deve fazer e o porque fazer da maneira que o Eterno exige. 
A teologia ocidental quer tornar Jesus (Yeshua) um ser totalmente complacente, porém isso não é de todo verídico. Na verdade, as revelações dos evangelhos mostram o quão mais exigente ele foi em relação a obediência a vontade do Pai. Claro que a misericórdia do Pai é infinita e se renova todos os dias e que Ele está sempre disposto a nos perdoar, todavia, a obediência irrestrita ao Pai torna-se com Yeshua mais rigorosa e assertiva. Nos aproximemos, então, deste, que nos quer mais perto do Pai e fazendo com a excelência que Ele merece, seja em casa ou no trabalho, na rua ou na igreja. Em todo tempo, com Ele e para Ele e sempre por Ele.