terça-feira, 13 de dezembro de 2016

EMUNAH

Às vezes pode parecer esquisito que de uma hora para outra passamos a escrever as palavras da Bíblia em hebraico abandonando nosso idioma de origem.
Existem até algumas pessoas que sentem-se mal com esse hábito. Ficamos parecendo pessoas estranhas à "fé" do interlocutor. Mas, o que realmente queremos trazer a luz é a importância de estudarmos as escrituras sagradas tendo como fundamento principal a língua com que foram escritas a Palavra de nosso Elohim. É através da língua dos hebreus e sua cultura, que podemos ter a certeza que estamos contextualizando da forma mais lógica e clara possível, o que Ela tem a dizer.

Trazer a tona o conceito de Emunah é fundamental para compreendermos pontos fundamentais dos ensinamentos descritos no Tanach (Torá, salmos e os profetas), bem como das passagens da Nova Aliança (Novo Testamento) que podem parecer, por vezes, contraditórias, e em outras obscuras, devido aos enganos das traduções e interpretações provenientes das línguas grega e latina.

Ora, como o grego e o latim poderiam ser os melhores idiomas para refletir a mensagem insculpida na Bíblia, se toda Ela, as Escrituras, tratam, principalmente, da vida, hábitos, usos, costumes, do povo judeu e não de gregos e romanos? devemos desprezar toda a riqueza judaica contida nas escrituras?

Lembre-se que Yeshua (Jesus) era judeu, Miriam (Maria), os doze apóstolos e a imensa maioria das personagens que aparecem em todo o texto sagrado.

No livro de Mateus 10:5-6, diz que:

"Jesus enviou os doze com as seguintes instruções: "Não se dirijam aos gentios, nem entrem em cidade alguma dos samaritanos.
Antes, dirijam-se às ovelhas perdidas de Israel". 

Paulo confirma na sua Carta aos Romanos, 1:16:

"Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego".  

Do mesmo modo, no capítulo 2:9-11, ele confirma e acrescenta:

 "Haverá tribulação e angústia para todo ser humano que pratica o mal: primeiro para o judeu, depois para o grego;
mas glória, honra e paz para todo o que pratica o bem: primeiro para o judeu, depois para o grego. 

Yeshua, vem apresentar as coisas do Reino, primeiramente ao seu povo, só depois para os gentios. Então, seguindo esse raciocínio, Ele estaria a falar para o seu povo de modo que eles entendessem a sua mensagem da melhor forma possível. 
É óbvio que ele se dirigiria ao seu povo tendo como ponto base fundamental os princípios refletidos na Lei, nos Salmos e nos Profetas, que eram as Escrituras da época e que todo israelita conhecia e tinha intimidade.
É sob este aspecto que se diz que Ele veio primeiro às ovelhas perdidas da casa de Israel, pois, nesse tempo, os israelitas, encontravam-se afastados da "fé original (verdadeira)" por causa da usurpação do templo pelos romanos e a subserviência da cúpula sacerdotal. Estes últimos, se desviaram da Torá para criar pesados jugos (dogmas) sobre os fiéis.

Desculpem-me o peso de toda essa longa introdução para chegar ao estudo do que propõe o título deste texto, porém, o correto entendimento do que vem a ser Emunah passa necessariamente pelos pilares apontados acima.

Esclarecidos os aspectos acima descritos, passemos a tratar mais propriamente do tema. 

Levemos em consideração, primeiramente, que o conceito de Emunah é diferente do que a tradução latina revelou como "fé".

O conceito de "fé" para os gregos e os romanos é muito mais voltado para o superficial, o abstrato, para a metafísica, enquanto que, para o judeu as coisas são colocadas com os pés no chão, ou seja, de forma mais sustentada e concreta.

Atente que, dentro da religiosidade dos povos grego e romano as questões relativas a fé passariam por toda uma complexa gama de crença em seus mitos e superstições. Deuses que hora agiam como divindades, hora agiam como humanos, criaturas e monstros, etc.  Do ponto de vista judaico, a fé sempre foi a da tradição monoteísta, ou seja, crença em apenas um Deus. 

Tendo entendimento dessa divergência religiosa que envolve gregos, romanos e hebreus (judeus), é mister afirmar que o conceito de Emunah diverge do entendimento grecoromano de fé. Emunah se traduz como fidelidade, certeza, honestidade, lealdade, permanência, segurança, etc., enquanto que "fé" da práxis grecoromana, lidaria mais com o superficial, com o efêmero. 

Fé, se origina do latim felitas, no sentido de "crença ou confiança"; já Emunah, deriva-se do verbo hebraico Aman, cujo significado, é firmar, resitir, ser fiel, ficar firme, assegurar-se, perseverar.

É por causa da nossa herança cultural grecoromana que passamos a acreditar que basta estarmos "deitados em berço esplêndido" e esperarmos as coisas cairem do céu que tudo se confirma aqui na Terra. Foi dessa maneira que fomos desviados do entendimento correto da Palavra.  Se não tivessem desvirtuado o caminho correto a ser percorrido pela fé, ou seja, se fosse a fé entendida dentro do contexto cultural judaico, estaríamos tendo hoje um contato mais fiel, puro, íntimo e concreto com o Eterno. 

Desta forma, abandonando a herança grecolatina da expressão contida no texto de Efésios 2:8, e tornando efetiva em seu lugar o contexto hebraico, podemos afirmar que a Emunah é um dom do Altíssimo, portanto, não vem de nós e tem por objetivo o fortalecimento da congregação e da edificação do crente.

Então, para exemplificar digamos que você seja um promotor de justiça e que pela lei, estando investido de autoridade, resolva permancer na inércia ao invés de efetivante exercer o seu múnus. Dessa maneira, em nada você fortalecerá a comunidade cuja jurisdição é de sua responsabilidade, bem como, em nada estará sendo edificado enquanto profissional.

Assim, podemos concluir que, a Emunah é algo que precisa ser exercitado continuamente. A busca pelo aperfeiçoamento da fé deve ser constante e isso se dá mediante o estudo e a prática das Escrituras.

Caro leitor, tenho certeza que agora já dá para entender de maneira mais correta o uso e o significado da palavra  "fé". O entendimento desse aspecto judaico ensinado aqui tem que estar, necessariamente, em conformidade com o que está descrito em Hebreus 11:6. Neste versículo afirma-se o princípio de que "sem a Emunah (fidelidade)  é impossível agradar a Deus. Portanto, passemos a utilizar o contexto correto da Bíblia para pormos em ação o melhor que há em nós enquanto filhos do Deus Altíssimo,

Lembre-se o que está escrito em Hebreus 11:1:

Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem.

Firme fundamento é algo sólido, concreto, seguro e o exercício da fé leva a prova das coisas que não se vêem.

Viva sua vida firmado na esperança das realizações dessas coisas que não se vêem, mas também, viva na certeza de que o Eterno é aquele capaz de te dar a prova de que a vontade Dele em nossas vidas se realizará.


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